quarta-feira, julho 02, 2014


Tire o ruído
Me coloque grilo
Pio de passarim
Lá no cerrado

quarta-feira, junho 11, 2014

Um velho poema reescrito:

azul de metileno, amarelo ocre, cream cracker
violência violácea essa chuva de fragmentos plásticos
intempérie dos novos tempos, amor
cetins de acetato, cloridrato de fluoxetina, nuvens sépias
ninféias de látex sobre um rio de mercúrio
cenário para a cura de nossas feridas, querida
cadafalso de faces, fissuras nos flandres, influxo menstrual
viscosidades vermelhas lambendo o crepúsculo
guizos e gonzos, sons dos nossos gozos em gotas finas, menina

jaime brasil filho
da próxima vez seremos o acerto, o strike do escroque, os cornos do escárnio
o alvo, a mariposa que pousa na lívida cal nos troncos das árvores da praça
nossa pintura de guerra é o arco-íris do caos, as flores do ipê em chamas
ainda hoje arrancaremos o asfalto e enterraremos o umbigo dos paralelepípedos 
descongelaremos las madres células e todas as ruas serão nuas, serão nossas 
ressuscitaremos as tarântulas taxidermizadas e salvaremos bonecas do monturo
e nisso não há nada de obscuro, de duvidoso. o futuro é um tiro no sol 

jaime brasil filho
Rinite de rinoceronte, esta minha. Formigas imaginárias passeiam na borda do copo
e a tua saliva cheira a sândalo.
Ontem fiz um escândalo por nada, senão não seria escândalo, seria justiça. Tenho uma pista do que tu gostas: faz fumaça. Uma aposta do que detestas: faz careta.
Entre reluzente e sombria, nunca foste fosca. Entre transbordante e escassa, jamais nivelaste a vela.
Seguem os vultos de rostos sob os escafandros, sufocados pelo calor e o cheiro de esgoto da baixada.
Pelos meandros de malandros do Beiral arrebatam-se o divino, o etéreo, e é como se dissessem pra mim: - chega desse seu lero-lero pequeno-burguês.
Saqueiam a ordem em doentia perseverança, são mártires do caos, arautos do fim, assassinos da decência perdulária, algozes da nossa aconchegante hipocrisia.
Vida vadia, vida vazia. Todos podemos escolher.

jaime brasil filho
Centopéias desfilam pelo tronco úmido, onde há alguns dias cigarras sibilavam.
Regurgito o grito grotesco que imagino ser das góticas gárgulas de Gothan City. Mas, na minha cidade não há salvadores das leis, nenhum super-herói, apenas detratores de flores, escarros de carrascos nas calçadas, sangue de inocentes nas pias dos hospitais, pobres viciados enjaulados e esgoto governamental nos rios. 
O tempo calcina, quando não mumifica. A vida vacina e vaticina. A morte virá. 
Mas, antes disso, quero distância dos seguidores de regras, dos protetores de pregas, dos chupadores de pregos. Quero abundância de melancia, mais Sancho Pança e menos mais-valia. 

jaime brasil filho
Taperebás esmagados no asfalto. Os vértices dos galhos da velha árvore em que brincávamos ainda estão lá a nossa espera.
Procuramos em tudo o que parece não ser. Idealizamos damascos, ameixas e figos e nos esquecemos dos cajus, araçás e carambolas do nosso quintal. É o mistério enquanto fuga e apego. Aquele tal vinho é que é o tal? Eu sei lá. Na terra prometida cresce a grama do vizinho. 
Eu sei que aqui em casa as maracanãs fazem graça e gargalham todas as manhãs. Desfolham, abortam as frutas verdes, ainda. E eu me rio com elas.
Oscilamos nossas mentes na cadência das canoas em dia de ventania, enquanto as gaivotas riscam com seus bicos a flor da água do Rio Branco.

jaime brasil filho
De uma boa chuva, é o que o nosso limoeiro precisa.
Tem gente que se culpa por se sentir feliz. Se tá tudo bem, sente que há alguma coisa errada. Aí deixa de molhar o limoeiro na estiagem para ter um motivo pra não ter limões. E põe a culpa na chuva que não veio.
A cor que satura mais é o encarnado. De chama e afago. Que lembra groselha e batom. Dessa é que eu gosto.
A dor da morte é pra quem vive; a dor do parto é pra quem vive. Quem teme a dor?
Ganhamos tantos campeonatos e nunca estamos fartos.
Doravante, usarei uma túnica de tarântulas tântricas, dessas imensas que passeiam pelas panelas sujas, esquecidas nas pias das repúblicas de estudantes. Direi algumas palavras sem sentido e que parecerão proféticas, para que todos se acalmem.
De minha parte, não porei a culpa em nada.
Doravante, farei chover.

jaime brasil filho

Ando farto de amenidades e de olhares temerosos. As pessoas esperam por um momento ideal para começar a viver. Mas, o vento vem antes da chuva, o mormaço antes do vento. E a morte antes de tudo.
Nos finais de semana eles copulam como lagartas, babam feito ruminantes, e quaram como iguanas ao sol.
É preciso lembrar: pimenta murupi não é tempero. É fruto sagrado da erva. É o perfume do fogo. Legado dos nossos ancestrais. Quem quiser dar o próximo passo, pode começar por aí.
Não me perdoem os excessos. Nos altos céus reinam os urubus. No olho d’água germinam os girinos. E só o que é selvagem pode ser humano.
Eu gosto de gente, de árvores, de serpentes. De pedras, de ventos, de vulvas.
Cai como uma luva a chuva sobre a minha mão. Escuto os trovões, o sermão das tempestades no telhado de zinco, e os mantras sobre a velha lata de tinta deixada embaixo da biqueira. Às vezes as gotas fazem uma escala musical perfeita.
Mas as pessoas estão surdas.

jaime brasil filho

Medinho, medinho, medo, medão


Medinho medinho, medo, medão
Do PCC atirar em todo mundo,
Da copa ser um fracasso,
De ele não gostar de mim,
Do remédio acabar,
Do filme ser ruim,
Do projeto ser reprovado,
Da comida me fazer mal,
Do boi estragado,
Da copa começar,
Justo você, me contrariar,
Medinho, medinho, medo, medão,
Se ele ganhar no primeiro turno,
Mudar de país,
E se eu estiver enganado,
Voltar tudo de novo,
Croácia 1.
Manifestação.
Manifestação da dengue, de outros mosquitos.
Se ele vomitar, se tiver cólica.
Se eu não conseguir.
Medinho, medinho, medo, medão,
Se o que você escrever, eu discordar.
Se a gente não tem prova.
Se a gente tem prova.
Se eu gosto.
Se eu não gosto.
Medinho, medinho, medo, medão,
Posso ser eu?
Medinho, medinho, medo, medão,
Ou prefere que eu seja você?
Ou prefere que sejamos eles?
De dirigir.
De digerir.
De amar.
Medinho, medinho, medo, medão,
Me pergunto do que eu tenho medo,
e do que eu tenho coragem?
Porque a coragem é :
do que eu acredito.
E eu acredito em que?


sábado, outubro 02, 2010

espaço vazio, tempo perpétuo
compactuo com a sede dos teus lábios
e com a umidade dos teus cactos
que em sede plena me remetem a novos planos:
lançar-me pelos ares nas altas horas
em meio a uma chuva de meteoros
e semear quasares carmins no teus jardins estelares


Jaime Brasil
ando resignado resina de âmbar
de bar em bar barbitúricos
nada é demais edemas
e o pouco que sobra sabres
cortam em retalhos a reta
com que faço do caminho calmo ninho
a fossa que se enfeita mais infecta



Jaime Brasil
Existimos.
A que será que se destina?

Jaime e Lilian

terça-feira, setembro 08, 2009

sobre o tempo

longa espera
e por mais que você não queira
.................

precisa dela
chão de terra batida
arranha-céu
sacos de lixo sobre a mesa
e um besouro negro pousa no mármore

mar morto e água-viva
aveia e centeio sobre o capim
e cada semente carece de sentido
ai de mim

terça-feira, julho 21, 2009


aniversário
o futuro mais que perfeito
não participo do passado
mas aposto num presente
(por Lilian e Jaime)

sexta-feira, março 06, 2009

nada pinta
desce o sol
move a sombra
tarda a lua
cresce a planta
feito criança
o tempo muda
o vento grita
a palha dança
e deixa a vida
tudo tinta
são dois pra lá dois pra cá

ah...se o capitalismo soubesse dançar
quando dei por mim
estava tudo como antes
você na terra escavando estrelas
e eu nas nuvens garimpando diamantes
Enquanto eu olhava as estrelas,
fingia,
porque sou ansiosa para ficar muito tempo olhando uma coisa só.
Fingia também enquanto dormia,
achava meio perda de tempo,
sou ansiosa, contei atrás.
De vez em quando ouvia prosopopéias, mas mal sabia o que era, quem eram e quando viveram e o que faziam as prosopopéias.
Eu tenho cérebro de paisagem.
Então, nesse instante, eu gostava de sonhar, de olhos abertos, enquanto o mundo vivia e enquanto o mundo dormia.
No meu mundo não tem magia.
Nem rádio.
Nem mosquito.
Tudo isso dispersa.
E eu não tenho paciência.
Mas tenho imensa vontade de ouvir o silêncio,
o batuque do meu coração
e a fumaça do meu cigarro na luz.
não mais me atura?

então queime esta minha criação

criatura

Catapora Caipora Poeira Capoeira

Fico eu:
fora ou na beira?
sem pisar no chão
as pegadas que deixo no ar
ninguém pode apagar

o quadro do momento - em produção


terça-feira, março 03, 2009

Me despeço do dia
Me despindo de mim
se o centro é o umbigo
me convide que eu me concentro
contigo
aquela tarde
aquela fraude
aquela fuga
aquele alarde
aquele ar
de até mais tarde
aquela lua
aquela rua
aquela nua
aquela sua
suavidade
Onde você foi, noite?
Te esperei a tarde inteira.