sábado, agosto 19, 2006

Eu tava no sal.
Ele no açúcar.
Eu na arruda.
Ele na orquídea.
E assim foi: black e red, jeans e organza.
Até que ele colocou um forró.
Misturou tudo dentro de mim.
Eu que tava tão bossa-nova-retrô-metrô.
Fiquei agridoce.

quarta-feira, agosto 16, 2006

exagerei no meu disfarce
criei caras e bocas
poses e trapaças
pra passar a lua nova
cheia

terça-feira, agosto 15, 2006

Vamos andar abraçados pelas calçadas vestidos do que somos, ou melhor, do que queremos que o mundo seja em nós, portanto, fantasiados de nós mesmos, aquela ali do meio, a fantasia que nunca deixamos de ser.
Meus vestidos indianos, seus chapéus de feltro, minhas mãos esvoaçantes, suas pernas cruzadas, nossos pés grandes dando passos em direção aos nossos sonhos.
Aos olhares mais espertos, aqueles que vêem mais por que nenhum out-door ou luminoso lhes serve de âncora, é possível ver nossas almas em algumas almas. As que sobraram.
Sabemos que é preciso mais do que desejo, é preciso também energia, é necessário agir, mas ação pra que? Para ter a nós mesmos e sermos plenos de nossos sonhos. Nos embriagaremos de sonhos.
E nossas vidas serão festas que tomam de assalto nossas casas, sem endereços, e nossas almas: velas coloridas, almofadas e capoeira. E nos saciaremos do amor.

quarta-feira, agosto 09, 2006

na medida certa

Vera. Sua mãe escolheu o nome quando ela ainda estava no útero.
Para sua mãe o nome significava verdade e assim teria que ser.
Vera era uma mulher de vida social intensa. E hoje, a noite era festa.
Sempre vestiu a roupa perfeita para a ocasião, temperatura, pessoas.
Riu, traiu, desejou, invejou: na medida certa.
E hoje, a noite era festa.
Pela primeira vez sentiu incômodo ao se olhar no espelho.
Ficou em casa, dormiu nua e sonhou com nada.

terça-feira, agosto 08, 2006

Chorou porque não conseguia parar de chorar.
Fez rio.

Fez água salgada do mar.

sábado, agosto 05, 2006

no café da manhã

Tudo aquilo pra mim não passava de um sonho.
Mas as pessoas me fizeram crer que era verdade.
Percebe, tem até cheiro e gosto – diziam.
Doce como sonho.

quinta-feira, agosto 03, 2006

quadro

há muito tempo atrás
eu queria ser uma bola.

Passou o tempo
e tudo que eu quero ser
é um macarrão,
parafuso de preferência.

Mas sou aquela ali,
do canto esquerdo,
em cima do ombro do menino remelento:
não passo de uma mosca morta.
Estava na estação de metrô Consolação.
Do lado estava um velho.
Paletó branco, cabelos brancos, barba branca, bengala azul.
Era bonito de se ver.
Fiquei olhando, pensando no que pensava.
Mas já não pensava mais, era só imagem.
Triste de se ver.
E o trem para o paraíso passou.